Um tanto de Caio nunca é muito.

“Eu não procurei, não insisti. Contive tudo dentro de mim até que houvesse um movimento qualquer de aceitação. Quando houve, cedi.”

“Ela é um pote de cristal, tão tranparente quanto, tão rico quanto. Mas um cristal que não sabe seu real valor, um achado no meio de tantos outros pobres potes que são apenas de vidro. Estes se quebram e são varridos como um objeto qualquer. Mas ela não, se ela quebra, é a tristeza de um cristal que se foi. E todos sentem.”

“Aquele amor não-retribuído que aos poucos vai virando veneno, desejo de vingança, rancor e mágoa.”

“O meu dia só existe porque você existe dentro dele. Porque se você não vem é como se o tempo fosse passado em branco, como se as coisas não chegassem a se cumprir porque você não soube delas. E se você vem, fica tudo maior, mais amplo, sei lá, mas é como se eu existisse de um jeito mais completo…”

“Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha.”

"Deus, põe teu olho amoroso sobre todos os que já tiveram um amor sem nojo nem medo, e de alguma forma insana esperam a volta dele: que os telefones toquem, que as cartas finalmente cheguem... Sobre todos aqueles que ainda continuam tentando, Deus, derrama teu Sol mais luminoso."

Enfim, Caio F.

Equilibrista.

Bambeia.
Cambaleia.
É duro na queda.
Custa cair em si.
Largou família.
Bebeu veneno
E vai morrer de rir.

Chico Buarque

Imagem de você.

Ele é daquele tipo ácido de homem doce, que te conta histórias de dormir mas não quer que você durma. Ele quer apenas que você tenha medo, que fique acordado a noite toda lhe fazendo companhia. Com os olhos arregalados, bem abertos.

E daqueles que te fuma até a último vestígio de nicotina. Inspira fundo o ar que te faz viver até o mais fundo dos pulmões. Depois te libera no ar, fumaça que baila solitária depois de pertencer a si. Como uma espécie de viagem com tempo marcado.

Um garoto liricamente descrito por palavras. Guerreiro de olhos fundos, alma leve, que segue firme em cima do seu cavalo negro. Sim, seu cavalo é negro, porque cavalos brancos são para príncipes, e isso ele nunca desejou ser. Embora seja.

Para aqueles que perpetuam sua rotineira vivência cotidiana resta apenas um gosto qualquer na boca. As vezes amargo, tantas vezes doce, outras nem tanto salgadas demais. Mas todos, certamente bem degustados durante o tempo em que provaram do estar perto dele.

Relógio.

O mais feroz dos animais domésticos
é o relógio de parede: conheço um que
já devorou três gerações da minha família.
Mario Quintana

Se eu fosse um padre.

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
— muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!


Texto extraído do livro "Nova Antologia Poética - Mario Quintana", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 105.

capitulo um.

Nunca atenda antes de deixar tocar pelo menos três vezes, para não demonstrar ansiedade. Que ninguém possa supor jamais que você vive plantado ao lado de um maldito telefone. Principalmente à noite e durante os fins de semana, claro.

Caio F. Abreu