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- Às vezes sinto falta de mim
-Eu também, menino.
-Sente falta de si?
-Não, de você. E dói.
[Silêncio]
-Me abraça?
-Sempre.

Hoje é dia de Maria.

Zé: Vortô pra ficá, né?
Maria: Não, acho que minha sina é sempre caminhá...
Zé: Tu carece é de criar raíz minina!
Maria: Num fala assim Zé, eu sinto que andei, andei, andei e num cheguei a lurgá nenhum, sinto que um tanto de coisa eu perdi e um tanto de coisa eu num consegui achar... Viver é assim mermo Zé? Essa coisa doida que muda sempre? A separação de quem a gente quer? Andança sem parar Zé? Parece tudo sonho. Viver é isso Zé? E o amor Zé, quando é de verdade? E felicidade Zé, quando é de verdade?
Zé: Ói, a felicidade é o contrario do amor né? A felicidade...
Maria: E na vida Zé, o que vem depois da morte?
Zé: Num sei. A gente só sabe perguntá, num sabe responder não...
Maria: Acho que meu destino é sempre fazer o caminho de vorta. Adeus Zé!
Zé: Mas será pussivi minina qui nossa sina seja sempre se dispidi?
Maria: É não Zé! Nossa sina é sempre se incontrá.

Não é amor. É melhor.

Eu não amo você. Eu tenho certeza que não. Eu amo a mim mesmo naquela verdade inventada. Não é amor, é uma sorte. Não é amor, é uma travessura. Não é amor, é dois travesseiros. Não é amor, são dois celulares desligados. Não é amor, é de tarde. Não é amor, é inverno. Não é amor, é sem medo. Não é amor. É melhor.

(Martha Medeiros)