Cena Do Crime.

Pois é.
Resoluções de fim ano e o que você tem?
Existe a pessoa certa? Não, não existe.
Existe a pessoa errada? Claro, mas quem se importa?!!
Existe o final feliz? Cara, o ano só termina para que tudo possa começar novamente.
Acho que não preciso mencionar 2011, ele já está bem claro. Não foi um ano ruim, não. Tiveram coisas boas.
Estou amando ainda mais o meu trabalho, cuidando, quase me sentindo Florence Nightingale.
Só para que saiba, estou morando em Uberlandia agora. Então coloque junto nessa equação a vontade insana de terminar tudo e voltar para minha terra Goiana.
O apartamento dele era no centro da cidade. Lindo o lugar, mas não era da decoração que eu tinha receio, era de entrar no turbilhão de lembranças que só acontece quando se volta ao local do crime. Tudo estava meio igual, mas ao mesmo tempo estava fora do lugar.
Ele abriu a porta usando calça jeans, camisa xadrex, um cordão e bebendo um uísque. Praticamente um rockstar.
"Senta onde quiser, sobre o que quer conversar? Faz tempo que não nos falamos" - disse ele com a voz rouca.
Eu o analisava meticulosamente sem me preocupar com o que respondia. Esperava um bote ou alguma forma ilicita de pagamento pela informação.
"Hey... Leandro.... Onde você está?"
"Estou aqui, por que ta me perguntando isso?"
"Faz tempo que não nos falamos e nem nos encontramos e você está divagando na minha sala de estar. Não sei se tudo é uma surpresa ou se estou vendo tudo acontecendo de novo."
Ele soltou uma risada e pergunta se quero um drink.
"Como vai aquele trouxa que tanto te enganou?" - perguntou ele.
"Espero que realmente seja uma brincadeira essa sua pergunta."
"Diga, ainda se falam?"
"Não, e se quer saber nem mencionamos o nome um do outro."
"Que dureza! Mas se você voltou a falar comigo, porque não com ele?"
"Você quer a verdade?" - ele sorriu meio de deboche, assentindo. "Já nem sei mais. As vezes me esqueço que ele existiu, mas às vezes me bate uma besteira. Mais quando tudo está na merda. É como se ainda lembrasse da voz dele me acalmando. Ele me trazia paz. Agora é só lembrar dele que percebo que aquele cara que ia me visitar e me pegava na faculdade não existe mais. Aquele cara não existe mais. Hoje ele é feliz, com seu relacionamento novo e seus amigos novos. E eu... Bom, eu vou me achando. Sou um outro homem também. Mas é assustador de pensar o quanto já estamos distantes. Somos praticamente estranhos."
"Que bonito, você ainda o ama" - ele disse sem perder o tom do outro lado da sala.
"Não, não amo. Mas amei. E como todas as coisas do passado, fica aquele medo de que nunca mais volte a amar." - eu disse com a voz serena.

Silencio.

Já esqueci para que vim aqui. Pego minhas coisas e me preparo para sair.
"Eu podia ter te amado", ele quebra a pausa com suas palavras.
Por mais sincero que fosse não sabia o que ele esperava que eu respondesse. E de repente não é mais preciso. Ele me puxa pelo cós da calça e me beija com a fúria de quem mata uma sede. Sede dele, sede minha. Engolimos o desejo um ao outro e paramos cansados sem nos distanciar. Ele puxa um papel de dentro de uma agenda e coloca no meu bolso.
"Vai... Ah, ia esquecendo, voce esta ótimo!"
Eu devia ter ficado, mas não. Sai do prédio com a impressão de que o passado só serve para nos lembrar das coisas que deixamos para trás.
Verdade ou não, amor ou não, apenas uma coisa que em tudo isso era certa: não foi por falta de amor que as coisas ficaram do jeito que estão. Foi por não saber amar.

Que ano...

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